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Recessão fez Brasil perder 17 fábricas por dia entre 2015 e 2018

Extinção de unidades reflete perdas na produção da indústria, que opera 18,4% abaixo do pico

Por Estadão| 20/01/2020

Em meio a dificuldades de manter o ritmo de recuperação da produção, a indústria de transformação encolheu significativamente no País nos últimos anos. Pelo menos 17 indústrias fecharam as portas por dia no Brasil ao longo de quatro anos. Ao todo, 25.376 unidades industriais encerraram suas atividades de 2015 a 2018. Os números são de levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC)

A extinção de unidades industriais é resultado do acúmulo de perdas na produção da indústria de transformação brasileira entre 2014 e 2016. Houve um início de recuperação em 2017, mas o processo perdeu fôlego em 2018. De janeiro a novembro de 2019, últimos dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física do IBGE, a produção da indústria de transformação ficou praticamente estagnada. Com dificuldades para repor as perdas passadas, a indústria de transformação opera 18,4% abaixo do pico alcançado em março de 2011.

“A transformação está praticamente parada. Se ela não cai, também não demonstra nenhum tipo de crescimento”, ressaltou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

Se a produção industrial cresce, cada aumento de 1 ponto porcentual gera abertura de, aproximadamente, 5,9 mil unidades produtivas no ano seguinte. Se cai, o número de fábricas em atividade diminui na mesma proporção, calculou Fabio Bentes, economista da Divisão Econômica da CNC e responsável pelo estudo.

“O fechamento de unidades produtivas vai se intensificando e atinge um ápice também mais ou menos depois de um ano”, explicou Bentes.

O estudo da CNC mostra que o País tinha 384.721 unidades industriais de transformação em 2014. Desceu a 359.345 indústrias em 2018, queda de 6,6% no total de unidades. O Rio de Janeiro teve a maior queda no período (-12,7%). Perdeu 2.535 unidades em quatro anos. Em termos absolutos, o Estado de São Paulo teve a maior perda de unidades produtoras. Foram menos 7.312 unidades, o equivalente a uma redução de 7%.

A expectativa para a produção industrial nos próximos meses é favorável. O processo de abertura da economia e a elevada capacidade ociosa do parque fabril, porém, podem adiar a inauguração de novas unidades industriais. Haverá dificuldade para a retomada mesmo em cenário de crescimento da fabricação de manufaturados.

“A economia está começando a se recuperar, há expectativa de crescimento em torno de 2% na indústria (em 2020). Mas será que vai gerar cerca de 12 mil unidades produtivas em 2021? Acho pouco provável que isso ocorra”, opinou Bentes.

Dificuldades tributárias provocam fechamento de fábricas no setor de refrigerantes 

Neste mês, o Portal de Bebidas Brasileiras divulgou reportagem com diretores de indústrias de refrigerantes regionais, mostrando as dificuldades que as empresas do setor enfrentam no Brasil. Em um intervalo de dez anos, houve uma redução significativa de fábricas de bebidas acarretada pela concorrência desleal provocada por multinacionais, como Coca-Cola e Ambev, que estão instaladas da Zona Franca de Manaus e utilizam os benefícios fiscais da região para aumentarem seus lucros e dificultarem a concorrência para outros Estados.

Segundo a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério da Economia, o número de empresas de refrigerantes passou de 339, em 2007, para 218, em 2017, o que representa uma queda de 64% em dez anos.

Quando compara a carga tributária paga ao governo e o ganho financeiro com a fabricação e as vendas dos produtos, o diretor da Gold Schrin, Paulo Pagani, destaca que, a cada ano, o resultado para o setor de refrigerantes está cada vez pior. “Estou à frente do negócio desde 1990 e nunca havia passado por tantas dificuldades. Não conseguimos acompanhar o mercado porque o preço do nosso produto não evolui como os custos tributários”, critica ele. A indústria no Cia Norte, a cerca de 350 quilômetros de Curitiba.

Em São Paulo, o diretor da indústria Bellpar Refrescos, Murilo Parise, conta que, nos últimos 15 anos, cerca de dez fábricas de refrigerantes de municípios próximos a cidade de Conchas faliram, por causa de dificuldades financeiras e concorrenciais.

“Empresas de muita tradição em São Paulo precisaram fechar as portas porque não conseguiram se manter na disputa nesse mercado com tantas distorções tributárias. A carga de impostos, com certeza, prejudica muito os fabricantes”, lamenta Parise.