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PIB brasileiro ‘perde’ para 83% dos países nos anos 2010, aponta estudo

Crescimento médio do país durante período foi de 1,3% ao ano, estima economista do Ibre

Por Valor Econômico| 20/01/2020

Mais de 80% dos países cresceram mais rapidamente do que o Brasil nos anos 2010 (2010- 2019), um dos piores períodos de crescimento econômico da história brasileira, mostra levantamento do economista Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

De acordo com o levantamento, 160 dos 193 países da amostra (ou 83% do total analisado) tiveram uma expansão média do Produto Interno Bruto (PIB) mais forte do que o Brasil nos anos 2010. O PIB brasileiro cresceu 1,3% ao ano na média de 2010 a 2019 – para este último ano, foram consideradas a projeção do boletim Focus, do Banco Central (BC), para o Brasil e as do FMI para os demais países da pesquisa.

Esse ritmo médio de crescimento do PIB brasileiro é quase um terço da média mundial do período, que foi de crescimento de 3,8% ao ano. Também fica atrás do de países desenvolvidos como Estados Unidos (2,3%) e Alemanha (2%). Iguala-se ao Japão (1,3%), que há muito tempo caminha em marcha lenta. E supera parte das nações que estiveram no epicentro da crise da dívida na Europa, como Portugal (0,7%) e Grécia (queda de 2%).

A fraqueza da economia brasileira no período fica ainda mais eloquente na comparação com o PIB médio dos países emergentes, que foi de 5,1% ao ano entre 2010 e 2019. Dados levantados pelo pesquisador do Ibre/FGV mostram que esse desempenho foi liderado por países asiáticos, como a China (7,6% ao ano), a Índia (7,2%), o Vietnã (6,3%) e a Indonésia (5,4%).

A América Latina e Caribe teve uma expansão lenta na década, de apenas 2% ao ano. Além do mau resultado do próprio Brasil, que representa algo com 30% da economia da região, o número foi impactado pelo resultado pífio da Venezuela (-9,5%). Com a recessão no fim da década, a economia da Argentina cresceu 1,2% ao ano no período, pior do que as de Chile (3,5%) e Uruguai (3,1%).

Os anos 2010 foram uma montanha-russa na economia brasileira. O primeiro ano do período foi marcado por um forte crescimento do PIB, de 7,5% – perdendo apenas para países como China (10,3%) e Índia (8,6%). Na média de 2010 a 2013, o país cresceu 4,1% ao ano. Foi uma época de estímulos ao consumo e de erros na condução da política econômica, que levariam o país à recessão a partir de 2014.

“Os erros de política econômica começaram no segundo mandato do governo Lula, em 2008 e 2009, e se intensificaram no primeiro mandato do governo Dilma Rousseff. A conta chegou em 2014, quando entramos em recessão. A incerteza cresceu entre empresários, consumidores. O Banco Central perdeu credibilidade naquele período. Após 16 anos de superávit primário, passamos a ter déficit primário”, disse Balassiano.

Nos cálculos do pesquisador, o PIB do Brasil recuou 2,1% ao ano entre 2014 a 2016, o triênio classificado como recessivo pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), colegiado que busca definir a cronologia de expansões e crises da economia brasileira. Os piores anos do período foram 2015 (-3,5%) e 2016 (-3,3%), este marcado pelo processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A reta final do período foi de lenta recuperação da atividade econômica, com ritmo médio de crescimento de 1,3% do PIB do Brasil de 2017 a 2019. Balassiano lembra que os últimos anos foram marcados por uma sucessão de eventos que frustraram a recuperação da atividade e da confiança de agentes, como a greve dos caminhoneiros, o rompimento da barragem de Brumadinho (MG) e a crise argentina.

“Como a queda do PIB foi muito grande e a recuperação muito lenta, os anos 2010 foram piores, inclusive, em termos de crescimento do que os anos 80 (+2,9%), a chamada década perdida”, acrescenta o economista. “Daqui para frente, precisamos crescer mais rapidamente para mudar de nível. Para 2020 e próximos anos, as expectativas estão ao redor de 2,5% ao ano de crescimento, consideravelmente melhor do que nos últimos dez anos.”

Economistas esperam de fato uma aceleração desse ritmo de crescimento da economia brasileira. O boletim Focus, do Banco Central, indica que os economistas projetam aumento de 2,3% do PIB em 2020. É uma melhora de ritmo, mas não chega a encher os olhos. Nos últimos 40 anos, o Brasil cresceu em média 2,3% ao ano – o mesmo previsto para 2020. Para Balassiano, é pouco para um país que deixa para trás uma das maiores recessões de sua história.