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Reformas do governo podem virar 'veneno' se vierem na dosagem errada

Bolsonaro disse que recomenda à equipe econômica moderação em envios feitos ao Congresso

Por Valor Econômico| 04/12/2019

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira (2) que está recomendando à equipe econômica moderação na dosagem das reformas enviadas ao Congresso. Ele afirmou sobre a reforma administrativa que “o remédio muito forte pode transformar-se num veneno”. E, sobre a tributária, se vier uma “simplificação” em vez de uma reforma, será “muito bem-vinda”.

Em entrevista à rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, que Bolsonaro afirmou que tem adotado medidas “de certa forma um pouco amargas” e comparou a reforma da Previdência a uma “quimioterapia”. Segundo ele, no entanto, “a população entendeu” os sacrifícios necessários, uma vez que o país entraria “num caos em poucos anos” caso essa reforma não tivesse sido aprovada.

“A questão da [reforma] administrativa é questão do tempo. Nós temos que saber a dosagem, porque às vezes o remédio muito forte pode transformar-se num veneno. Essa preocupação existe, a equipe econômica entendeu”, disse Bolsonaro.

Bolsonaro também comentou a possibilidade de aprovação de uma reforma tributária durante seu governo. “Não é reforma tributária. Se vier uma simplificação tributária, será muito bem-vinda. Não adianta você mandar para lá o que você acha que é o ideal. Nós temos que mandar para lá aquilo que pode ser aprovado”, afirmou. “Se governos anteriores tivessem desregulamentado, desburocratizado, simplificado muita coisa, o Brasil estaria muito melhor do que está no momento.”

O presidente disse ainda que não tem poder para fazer uma reforma política, o que em sua opinião cabe ao Congresso. “O povo pede muito uma reforma política. Eu não tenho poder para fazer reforma política. A reforma política vai de acordo com o entendimento dos parlamentares. Não adianta eu jogar para lá uma proposta que o povo vai bater palma e não aprovar nada”, afirmou.

 “Casamento” com Guedes

O presidente afirmou também que ele e o ministro da Economia, Paulo Guedes, estão “perfeitamente alinhados”. “Eu sei que lá [no Ministério da Economia] o pessoal pensa muito em números, mas na parte social e política fica para o meu encargo aqui. Assim como ouço o Paulo Guedes em 90% do que ele fala, ele me ouve em 90% na questão política. Estamos perfeitamente alinhados”.

Bolsonaro disse ainda ter “evoluído” de sua visão estatizante para uma mais liberal após ter conhecido Guedes. “Conheci o Paulo Guedes tem dois anos exatamente. E o que eu precisava? Que o homem evolui. A mulher também evolui. Nós evoluímos. E os argumentos que ele apresentou para mim com uma clareza enorme me convenceram rapidamente”, afirmou.

O presidente disse que Guedes lhe mostrou “exemplos de como economia estatizante funcionava em outros países do mundo”. “E, logicamente, eu dei o voto de confiança para ele. Assumi o compromisso com ele de seguir em mais de 90% sua agenda e assim está sendo feito. Não estou sendo violentado por causa disso”, afirmou. “Estou muito feliz nesse casamento hétero na questão da economia”.

Bolsonaro disse ainda que o ministro é, “em grande parte, é um dos responsáveis pelo nosso governo hoje em dia ter mais de 50% de apoio por parte da sociedade”.

 Isenção no Imposto de Renda

Ainda na entrevista, o presidente disse que tentará cumprir, até o fim de seu mandato, a promessa de isentar do pagamento do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil por mês. Ele afirmou, no entanto, que não constrangerá a equipe econômica nem a Receita Federal para atingir esse objetivo.

“Tem o que eu queria fazer e o que pode ser feito. Eu gostaria de entregar meu governo, por exemplo, quem ganha até R$ 5 mil ficasse isento hoje em dia. Estou trabalhando para que este ano a gente possa chegar aos R$ 2 mil”, afirmou. “O pessoal pode reclamar: pô, só R$ 2 mil, você prometeu R$ 5 mil. Eu prometi R$ 5 mil, espero poder cumprir até o final do meu mandato”.

Segundo Bolsonaro, as renúncias fiscais do governo em despesas como saúde e educação retornam para as pessoas quando fazem a declaração do IR. Assim, segundo seu raciocínio, ao isentar os contribuintes do pagamento do imposto, isso irá “poupar trabalho” da Receita.

“Tem reação por parte da equipe econômica? Tem. Tem reação por parte da Receita? Tem”, disse. “Isso daí, eu estou forçando um pouco a barra, mas não vou constranger a equipe econômica, muito menos a Receita Federal. Acredito que meus argumentos são ouvidos por parte deles, apesar de eu não entender de economia”.