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Saiba diferenças entre segurança de alimentos e segurança alimentar

É importante distinguir estes dois conceitos importantes na indústria alimentícia

Por Blog da Segurança Alimentar| 16/04/2020

Em termos gerais, o acesso a alimentos diz respeito à capacidade de obter quantidades suficientes, seja por meio de compras ou da produção. No entanto, para qualquer consumidor, a disponibilidade de alimentos de qualidade, seguros e nutritivos é essencial para manutenção da saúde e do bem-estar.

A partir desse contexto, podemos distinguir dois conceitos importantes na indústria alimentícia: segurança alimentar e segurança do alimento.

Num primeiro momento, os conceitos de segurança alimentar e segurança do alimento parecem semelhantes, no entanto, são bem distintos. Isso acontece porque, muitas vezes, os próprios profissionais do segmento de alimentação sustentam informações públicas equivocadas.

Do ponto de vista de carreira ou de mercado de trabalho, a grande consequência disso é a perda de credibilidade no real conhecimento e competência que o profissional ou a empresa tem por não saber empregar conceitos tão relevantes e, ao mesmo tempo, distintos.

Para que você saiba mais sobre o assunto, criamos um guia completo sobre segurança alimentar e segurança do alimento. Continue a leitura e confira!

O que é Segurança Alimentar?

A expressão Segurança Alimentar, proveniente do inglês “Food Security”, diz respeito à garantia para a população do direito de acesso a alimentos em qualidade nutricional e quantidade adequadas para uma vida saudável e dinâmica, por meio da implantação de políticas públicas.

Em outras palavras, garantir a segurança alimentar consiste na disponibilidade permanente dos alimentos e o acesso regular a todas as pessoas, sendo eles de qualidade, com rica fonte de proteínas para a manutenção da saúde.

Tal conceito surgiu durante as crises resultantes das duas guerras mundiais, que deixou a maior parte da Europa devastada, sem condições de cultivo dos próprios alimentos e em situação de miséria. De acordo com pesquisa da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), aproximadamente 2 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a alimentos com frequência, por causa dos diversos graus de pobreza.

Em países subdesenvolvidos, regiões de desastre ambiental e de conflitos internos, os programas de combate à fome são primordiais. Por esse motivo, são desenvolvidas ações para ampliar a produtividade agrícola, proteção social para os mais vulneráveis e programas de nutrição específicos.

O que é Segurança do Alimento?

Além da disponibilidade dos alimentos, é necessário que todas as pessoas tenham acesso aos alimentos básicos de qualidade, em condições ideais para o consumo. É aí que surge o conceito de Segurança do Alimento (“Food Safety”).

A expressão está associada à garantia da qualidade dos alimentos comercializados, abrange desde os estágios de seleção e manipulação de alimentos até o consumo. Isto é, são ações que possibilitam o controle de agentes que, em contato com o alimento, proporcione risco à saúde do consumidor ou coloque em risco sua integridade física.

Os agentes contaminantes podem ser químicos (restos de agrotóxicos, resíduos de limpeza e metais pesados, por exemplo), físicos (fragmentos de pedras, insetos e plásticos) e biológicos (como microrganismos patógenos).

Por isso, é importante que se observe alguns aspectos, como a data de validade e a integralidade da embalagem, pois são indicadores de padrão de qualidade.

A Resolução RDC n°2016, estabelecida em setembro de 2004 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), regulariza a obrigatoriedade dos estabelecimentos que comercializam ou manipulam alimentos em desenvolver Manuais e Procedimentos Padronizados para garantir as condições higiênico-sanitário dos alimentos.

Segurança Alimentar x Segurança do Alimento: quais as diferenças?

Depois de abordar a definição dos termos, é possível perceber claramente a distinção entre eles. Enquanto a segurança do alimento se refere à qualidade e à produção dos alimentos, a segurança alimentar está associada às discussões sociais e políticas em relação à garantia de acesso à alimentação para as populações.

Além disso, a segurança alimentar depende não apenas da disponibilidade de alimentos, mas também da capacidade da família de preparar e armazenar alimentos e do acesso das famílias aos alimentos disponíveis.

Os termos são conceitos inter-relacionados com um profundo impacto na qualidade de vida humana e existem muitos fatores externos que afetam ambas as áreas.

Em termos legais, é importante destacar que foi constituído em 1993 o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) no Brasil, com o intuito de promover a segurança alimentar e nutricional à população. Anos depois, em 2003 e 2004, iniciou-se o Programa Fome Zero e a criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), sucessivamente.

Já em 2010, a alimentação adequada foi incluída na Carta Magna como direito humano, sendo estabelecida a Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional pelo Decreto n° 7272.

O número relativo de doenças devido a microrganismos torna a qualidade microbiológica o aspecto mais importante da segurança do trabalho. Assim, a segurança do alimento concentra-se principalmente no controle da contaminação de alimentos por patógenos, levando em consideração que o alimento não pode causar danos à saúde de quem o consome.

Dessa forma, é fundamental que os profissionais tenham conhecimentos a respeito de higienização e conservação dos alimentos e manutenção do espaço onde tudo é preparado. Assim, reduzem-se os riscos de contaminações, atuando em conformidade com a lei.

Muito mais que produzir alimentos seguros ou estar de acordo com as legislações, a segurança de alimentos acaba impactando de forma positiva nos negócios, como nos custos, o que evita os desperdícios de alimentos, otimiza a produção e, sobretudo, fideliza os clientes. Por isso é um conceito extremamente importante.

Com relação à segurança alimentar, diversos projetos foram desenvolvidos, como o objetivo 2 da Agenda 2030, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.

  • acabar com a fome e garantir acesso à alimentação saudável a toda a população, principalmente os pobres e pessoas em condições vulneráveis, incluindo crianças;
  • acabar com todas as formas de desnutrição e atender as necessidades nutricionais das crianças, jovens, mulheres grávidas, lactantes e idosos;
  • aumentar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores rurais, por meio de acesso aos recursos produtivos e insumos, mercadorias, serviços financeiros e oportunidades de agregação de valor;
  • garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos e implementar práticas agrícolas resistentes, que aumentem a produtividade e produção e fortaleçam a capacidade de se adaptar as adversidades climáticas.

Fatores que afetam a disponibilidade de alimentos

O principal desafio da segurança alimentar é garantir que todas as pessoas tenham acesso a alimentos de qualidade para levar uma vida produtiva. No entanto, a segurança alimentar pode ser afetada por diversos fatores que geram instabilidade no abastecimento alimentar. Veja, a seguir, alguns aspectos.

Mudanças climáticas

As principais mudanças climáticas estão relacionadas às causadas pela atividade antrópica, e o termo é frequentemente usado como sinônimo para os acontecimentos relativos ao aquecimento global.

A estabilidade do suprimento de alimentos pode ser afetada por um aumento na frequência ou gravidade de eventos extremos, como chuvas, ciclones, inundações, tempestades de granizo ou secas. A capacidade das pessoas de usar alimentos com eficiência também será afetada pelas mudanças climáticas, aumentando a possibilidade de doenças transmitidas por água e alimentos.

Perda da biodiversidade

O termo “biodiversidade” é uma combinação das palavras biológica e diversidade, e é usado para se referir à variedade de vidas na Terra. A Revolução Verde, por exemplo, incentivou o desenvolvimento de variedades de alto rendimento em culturas vegetais e animais, pelo uso de cruzamento entre animais ou plantas com características desejadas.

À medida que a biodiversidade diminui, o suprimento de alimentos se torna mais vulnerável às mudanças climáticas e à escassez de água.

Dependência de combustíveis fósseis

Os combustíveis fósseis na agricultura são usados ​​para produzir fertilizantes e pesticidas e para alimentar máquinas agrícolas e sistemas de irrigação. Os combustíveis fósseis estão se tornando cada vez mais limitados, o que terá um impacto na segurança alimentar, especialmente em países que dependem fortemente de importações de alimentos.

Uso de culturas alimentares para biocombustíveis

Os biocombustíveis são uma ampla gama de combustíveis que, de alguma forma, são derivados da biomassa, material de organismos vivos recentemente, como grãos, madeira ou resíduos. O termo biocombustíveis de primeira geração refere-se aos combustíveis produzidos a partir de culturas agrícolas, como milho, cana ou soja.

Embora o desenvolvimento de biocombustíveis tenha sido reconhecido como uma maneira de aliviar os efeitos das mudanças climáticas, diminuir as preocupações sobre o uso de combustíveis fósseis e estimular o desenvolvimento rural, muitos críticos acham que o uso de uma cultura alimentar contribui para o aumento do número de pessoas com fome no mundo, elevando os preços dos grãos.

Como evitar riscos à saúde com a segurança do alimento?

Alimentos de qualidade duvidosa, manipulados, transportados e armazenados de modo incorreto podem causar mal-estar, intoxicação alimentar e até mesmo alguns problemas mais graves à saúde.

De modo geral, para garantir a produção e a comercialização de alimentos seguros, é preciso implantar programas de gestão de qualidade e segurança de alimentos com foco na prevenção de riscos e na sistematização de processos. Além disso, orientar os colaboradores nos procedimentos operacionais, como a adoção de boas práticas de fabricação e em segurança de alimentos.

A finalidade dessas práticas é garantir que a manipulação e o preparo dos alimentos sejam executados em boas condições higiênicas e sanitárias, tornando-os seguros para o consumo e evitando possíveis danos à saúde dos consumidores.

O monitoramento da validade, a temperada da exposição, a manutenção dos equipamentos e a quantidade de alimentos produzidos são alguns dos principais motivos que causam a contaminação dos alimentos, por isso a importância dos cuidados e segurança dos alimentos.

A prática sustentável também é um fator importante para a segurança do alimento. Ela consiste na preservação do meio ambiente para evitar a contaminação do solo e das águas dos rios e mares, que prejudicam e contaminam os alimentos.

Os controles descritos nos Princípios Gerais de Higiene Alimentar do Codex — programa da FAO juntamente com a Organização Mundial da Saúde — são reconhecidos no mundo inteiro como essenciais para garantir a segurança e a adequação dos alimentos ao consumo.

Os princípios gerais são recomendados para governos, indústria (que incluem os produtores primários, fabricantes, processadores, agentes de serviços de alimentação e varejistas) e consumidores. Todos têm a responsabilidade de garantir alimentos seguros para o consumidor e reduzir a incidência de doenças transmitidas por alimentos e deterioração dos alimentos.

Cabe ressaltar que os novos desafios enfrentados pela indústria de alimentos incluem novas técnicas de produção, preparação e distribuição de alimentos, mudança de hábitos alimentares e aumento do volume de alimentos transportados pelo mundo. Além disso, as oportunidades de comércio são ampliadas quando os alimentos são produzidos em um ambiente estritamente higiênico, e um país que segue práticas estritas de higiene ganha uma reputação como produtor de alimentos seguros.

Por fim, as tendências atuais de consumo para alimentos confirmam a motivação constante em busca de informações mais exatas e alimentos mais seguros. Trata-se de uma conjuntura que incentiva investimentos constantes das indústrias, para aperfeiçoar gradativamente seus meios de segurança dos alimentos e manterem-se competitivas no ramo alimentício.

Diante das características abordadas, podemos perceber que, embora sejam conceitos diferentes, a segurança dos alimentos e a segurança alimentar têm forte relação entre si. Afinal, se os agentes conseguirem produzir com segurança, garantindo um produto de qualidade, eles terão menos desperdício, ou seja, mais pessoas poderão ter acesso aos alimentos.

A capacidade de produção das indústrias e produtores rurais e a disponibilidade de alimentos a toda população é uma preocupação que está atingindo muitas regiões ao redor do mundo, que, muitas vezes, não realizam uma refeição básica por dia e vivem em situações de extrema carência.

Por isso, muitos são os hábitos e atividades que precisam ser mudadas tanto no processo de produção como na consciência das pessoas. Essa parceria traz benefícios que ajudam a alcançar segurança alimentar e segurança do alimento, contribuindo para a erradicação da fome no mundo. Com esse artigo, tenho certeza de que você entendeu todas as diferenças entre os assuntos e a importância deles atualmente.